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quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Entrevista a Ilídio Serôdio pela Revista Imobiliária, 2000





"Ilídio da Ayala Serôdio é um dos mais prestigiados engenheiros portugueses. Presidente do Grupo PCG-Profabril Consulplano Gestão- SGPS, SA. é das maiores autoridades nacionais no que se refere à consultoria em éreas que vão da engenharia à indústria, passando pelos transportes e outras actividades estratégicas. Presente um pouco em todo o mundo, o Grupo há muitos anos que valoriza o nome de Portugal e dos seus profissionais."
Imobiliária - Qual foi o segredo do crescimento da Profabril?
Ilídio Serôdio - Juntámos a Consulplano e a Profabril em 1993. Tínhamos escritórios em Macau e várias empresas em Portugal. Desde logo apostámos no crescimento orgânico, além da aquisição de mais empresas. Comprámos, a seguir, a Proman - na área das fiscalizações e na área portuária - e mais duas empresas à Sapec na área da manutenção e consultoria industrial. Conseguimos, assim, a base para poder crescer se o mercado o permitisse. No entanto, o mercado português, nos últimos três anos, desde 97, teve uma grande quebra na área das Obras Públicas que tem afectado os consultores e os empreiteiros a partir do fim da Expo 98; sobretudo os empreiteiros de obras públicas porque os empreiteiros de obras públicas porque os empreiteiros da parte imobiliária, felizmente, tiveram uma repuperação interessante até meados de 2000. Com o lançamento dos novos grandes projectos que o Ministro Jorge Coelho vai anunciar brevemente julgo que vamos assistir a uma recuperação. Neste momento temos, no grupo PCG, mais de mil pessoas e a maioria está fora de Portugal e não são portugueses. Nós somos número um na Península Ibérica, na Europa somos o 32º grupo pelo número dos seus quadros e á frente de nós temos empresas inglesas, holandesas, suecas, dinamarquesas, uma alemã e uma suiça. No Mundo - acima de nós só há uma empresa canadiana. Em projectos industriais somos 13º no Mundo.
Imobiliária - Isto obriga-vos a ter uma estrutura de que tipo? É tudo coordenado a partir aqui de Lisboa?
Ilídio Serôdio - Hoje em dia temos empresas na Ásia - Macau, Hong Kong, Malásia e escritórios na China. Essas empresas funcionam todas em rede. Se houver um projecto na Malásia, vamos ver se em Macau ou em Hong Kong temos quadros. Se não houver aí recorremos a Lisboa ou vamos ao Brasil se for preciso. No Brasil, na parte civil, ganhámos agora um centro de distribuição para uma cadeia de supermercados. Sucede que para essa especialidade tivemos de ir buscar pessoas a Lisboa porque lá não havia especialistas. Mas, por exemplo, agora estamos com um déficit de pessoas na área de instrumentos e controlo. Vamos buscar quadros ao Brasil. Portanto, a nossa filosofia é trabalhar em rede. Temos projectos, por exemplo, em Moçambique que estão a ser executados em Macau.
Imobiliária - Na vossa facuração qual é a percentagem que vem de fora do país?
Ilídio Serôdio - Cerca de 54% vem de fora do país. Apesar de tudo a facturação em Portugal ainda é muito importante. Sem uma base sólida em Portugal seria muito difícil trabalhar lá fora. Há o exemplo de uma grande empresa inglesa que, a certa altura, teve de mudar a sua base de Londres para Hong Kong porque, só aí, tinha mil pessoas. Nós ainda não chegámos lá...embora neste momento possamos ter mais pessoas no Brasil do que aqui. Temos lá 500 funcionários.
Imobiliária - A passagem de Macau para a soberania chinesa vai trazer mudanças importantes nos vossos negócios naquela região?
Ilídio Serôdio - À partida não, pelo seguinte: nós, no passado, trabalhámos muito com o Estado. Um grande cliente continua a ser o aeroporto. Todos os anos há novos projectos a ele associados e, tradicionalmente, é a Profabril que fica com eles porque estamos envolvidos no empreendimento desde o princípio. Tirando estes, há outros projectos mais pequenos. De resto nós estamos habituados a trabalhar em países que não falam português nem têm portugueses. Trabalhamos no Bahrain, na Malásia, em Hong Kong. Muda o cliente mas o nosso serviço continua a ser o mesmo. É evidente que é importante - e é isso que estamos a perguntar ao novo Chefe do Executivo da região administrativa de Macau - saber qual é o plano de expansão do território. Se houver a continuação do "boom", se se concretizarem os projectos de ligação à China, de ferrovias que estão a pensar, nessa altura nós continuamos a ser úteis. Hoje em dia, a nível de consultoria de engenharia, devemos ser a única empresa que se manteve lá. E vamos continuar. Em Hong Kong estamos a expandir. Trabalhamos também na China onde estamos a fazer diversas pontes, a nível de assistência ao projecto e onde fiscalizamos por conta do investidor dessas infra-estruturas.
Imobiliária - Quais são as principais frentes de trabalho da Profabril em Portugal, neste momento?
Ilídio Serôdio - Nos transportes estamos nos concursos das "brisinhas". Estamos com a Aenor que tem a concessão das auto-estradas do Norte. Actuamos como projectistas, através da Consulplano com o apoio da PRET. Estamos também a trabalhar para o Aeroporto de Lisboa, para os novos taxiways. Estivémos envolvidos nos estudos de viabilidade e de localização do novo Aeroporto de Lisboa com o Aeroports de Paris; estamos envolvidos no novo Hospital do Oriente que vai ficar na EXPO. Aí estamos a fazer muitos projectos de estacionamentos para a própria EXPO. Na área industrial trabalhamos com a Petrogal e a Transgás, que são dois, que são dois grandes futuros investidores nos próximos 4/5 anos anos (vão gastar cerca de 400 milhões de contos). Refiro-me ao que há a fazer nas refinarias, condutas e armazenamento de gás natural. Na área de projectos de edíficios a nossa vocação está mais virada para hospitais, universidades, fábricas, etc.
Imobiliária - Vão estar ligados ao novo aeroporto de Lisboa?
Ilídio Serôdio - Esperamos que sim. Já fizémos os estudos de localização, temos experiências e, por isso, temos esperanças que o Ministro nos ponha na lista de empresas que trabalharão no empreendimento. Macau deu-nos a possibilidade de afirmar que talvez sejamos a única empresa em Portugal que tem a experiência de A a Z em aeroportos.
Imobiliária - Aparentemente, em Portugal, parece haver um certo distanciamento, entre as tecnologias usadas nas Obras Públicas e na construção civil. Isso é verdade?
Ilídio Serôdio - De facto era possível adoptar tecnologias que permitissem tornar a construção muito mais rápida, muito mais barata, desde o momento que fosse em quantidades industriais. Hoje em dia você compra em Miami, apartamentos muito mais baratos do que aqui. Não faz sentido. Isto porque aqui continua a construir-se modo tradicional. Acho que aí há uma falha, não percebo porquê. Nós não investigamos nessa área como fazemos em outras. Nos sectores industrial e de transportes, por exemplo, se não temos a última palavra de software, de conhecimento de materiais e de tecnologias, nem sequer somos convidados. Para entrarmos, por exemplo, no projecto de uma refinaria temos que saber minimamente que novas tecnologias existem para nos adoptarmos a elas. Julgo que no sector imobiliário há uma falha, logo desde o ínicio, da parte dos arquitectos que são muito tradicionalistas. Depois o cliente não exige. As empresas de construção deviam aproveitar para trazer para cá novas tecnologias, de modo a baixar os custos de produção. Há uma falha que não compreendo."

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Excertos de entrevista publicada na Revista Imobiliária em Abril 2000
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